A causa depois do efeito

«Sim, sim, Mónica. A causa depois do efeito. A minha tese é esta, minha querida - nós trazemos na alma uma bomba e o problema está em alguém fazer lume para a rebentar. (...) Alguns têm a sorte ou a desgraça de alguém fazer lume para rebentarem o que são, ver-se o que estava por baixo do que estava por cima. Mas outros vão para a cova na ignorância. Às vezes fazem ensaios porque a pressão interior é muito forte. Ou passam a vida à espera de um sinal, um indício elucidativo. Ou passam-na sem saberem que trazem a bomba na alma que às vezes ainda rebenta, mesmo já no cemitério.» [Vergílio Ferreira, «Em nome da terra», Quetzal, pág.187]

4 comentários:

  1. Também reli esse livro nestas férias. O final catapultou-me para estoutro final: http://www.youtube.com/watch?v=4FMhJ2A2IDQ

    Tenho de colocar uma nota sobre estas reedições da Quetzal, na minha página, com link para aqui, para se lerem os magníficos extractos que seleccionou :)

    Voltarei para ler atentamente os dois textos anteriores a esta postagem.

    TSC

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  2. O Vergílio Ferreira merece destaque, sem dúvida, em particular este livro, que é dos mais extraordinários que já li. É um livro perfeito, definitivo.

    Obrigado pelo link. Vou ter de rever este filme, mas pelo que me lembro dele, compreendo-a.

    Quanto a mim, saber que tenho uma leitora é mais do que mereço. A sua gentileza sensibiliza-me. Abraço grato.

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  3. Engraçado como podemos arranjar ligações tão díspares mas tão semelhantes entre o cinema e a literatura. No fim está tudo ligado e a prova disso é este texto e a curta-metragem Signs que descobri ontem. Todos nós precisamos de algo como um sinal para que este desencadei algo dentro de nós e nos faça «explodir» seja a que altura fôr. Muitas vezes até são as coisas mais simples que fazem com que haja tal efeito, e felizemente há pesssoas com dom para exprimir estas sensações,como Vergílio Ferreira ou um realizador australiano (Patrick Hughes).
    Já agora fico contente por ter gostado da curta-metragem, é de facto algo...

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  4. Existe, sim senhor. A tom (a cor?) da abordagem ao problema da «bomba» só é diferente porque diferente é a idade das personagens e, por conseguinte, diferente é a perspectiva: no filme o protagonista está no princípio, no livro no fim da vida.

    Gostei muito da curta metragem. Revela sensibilidade e inteligência. Fez-me lembrar um outro livro, absolutamente extraordinário, que também diz tudo o que tem de ser dito em pouco mais de 100 páginas, chamado «A morte de Ivan Ilitch» do Lev Tolstoi [ http://amortedeivanilitch.blogs.sapo.pt/ ]

    Também gostei que tivesse gostado do Vergílio Ferreira. Acredite que merece ser lido.

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