Com medonho estridor, o Inferno fala

 

Geme o Centro mortal, o Abismo estala,
O Vento se enfurece, o Céu se enluta;
Do mais enorme peso a massa bruta
Rompe em soluços, em temor se abala.

O mar o seu prefixo termo escala;
Na prisão subterrânea o fogo luta,
E horrores vomitando em cada gruta,
Com medonho estridor o Inferno fala.

Tanta desordem, tanto desconcerto
Nos elementos todos, são indício,
Que a ruína universal vem já mui perto.

E o mais certo sinal do precipício,
É crescer sem temor o desacerto,
E subir nos mortais sem termo o vício.
                                                                 I, 36

Abade de Jazente, Poesias, INCM, p.66

4 comentários:

  1. Já tinha lido uns poemas deste Abade Jazente. Julgo que nuns estudos da Gulbenkian.
    É um pouco infernal este poema. Gostei. :)

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  2. É o que se pode dizer: um casamento perfeito.
    Não conhecia esta gravura näif alemã que é muito interessante.

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  3. Gosto deste Abade :-)
    Obrigado, APS, pelas suas «Escolhas». Sem elas, por esta altura eu nem fazia ideia da existência do Abade...

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  4. Ainda bem que está a gostar do Jazente.
    As E.P. estão a acabar. No sábado passado saíu a XX sobre Juan Ramón Jimenez, um dos poetas estrangeiros de que mais gosto e,no próximo sábado, deverá sair a XXI e última. Ando agora a trabalhá-la...

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