Estados mentais

"TEOREMA DE HEISENBERG": Fórmula da mecânica quântica segundo a qual a variância (dispersão em torno da média) da posição de um electrão, ou de qualquer outra partícula quântica, é inversamente proporcional à variância da velocidade. Corolário: se a dispersão na posição diminui, a dispersão na velocidade aumenta e ao contrário. A fórmula é rigorosa e deriva de alguns dos axiomas da teoria, sem nenhuma referência a processos de medidas. Deve portanto ser válida universalmente sem nenhuma referência a condições de laboratório. Contudo, tem sido muitas vezes mal interpretada falando de perturbações causadas pelo aparelho de medida ou mesmo pelo observador. Também tem sido mal interpretada falando da incerteza do experimentador a respeito da posição exacta e da velocidade exacta da coisa medida – daí o nome popular de "princípio da incerteza". Esta interpretação é incorrecta por duas razões. Em primeiro lugar, a física não trata de estados mentais como a incerteza. Segundo, a referida interpretação pressupõe que os electrões ou os seus análogos têm sempre uma posição e uma velocidade exactas, como se fossem massas pontuais clássicas, com a diferença que não as podemos conhecer com precisão. Mas a teoria não faz essa suposição: não postula que os electrões e análogos são pontuais e que as suas propriedades têm valores precisos. Em mecânica quântica fala-se de partículas (ou ondas) de uma maneira analógica que é, por isso, enganadora. Uma vez que essas confusões estejam clarificadas, o teorema de Heisenberg perde qualquer interesse para a epistemologia, excepto como um exemplo das distorções de factos científicos que uma filosofia falsa pode originar. Retém , porém, interesse para a ontologia, lembrando-nos que os tijolos constituintes do universo não têm forma definida e são por isso indescritíveis de uma maneira geométrica".

Mario Bunge, citado por Carlos Fiolhais, no blog De Rerum Natura



5 comentários:

  1. Não sei o que me perturbou mais: se o texto, se o vídeo. (Mas, hoje, estou boto e ignorante) Valeu-me o T. E. Lawrence ("My name is for my friends.)para me re-centrar.
    P. S.: e a "variância" deixou-me amargos de boca...

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  2. :-)
    Quando estudei estas matérias, no Liceu, lembro-me dos desenhos dos átomos e de achar que eram mini-cosmos perfeitos, os electrões em órbita, rodeando um núcleo de protões e neutrões. Tudo partículas, ou seja, matéria «concreta».
    Descobri, mais tarde, que no início do séc. XX a natureza do electrão foi muito discutida: uns diziam que é uma partícula, outros que é uma onda. Um tal Erwin Schrödinger, através de um paradoxo que envolve um gato simultâneamente vivo e morto, demonstrou que o electrão é, simultâneamente, as duas coisas. E precisamente porque é as duas coisas, comporta-se desta maneira extraordinária ( a tal variância) o que faz com que «os tijolos do universo sejam indiscritíveis». O mundo, na sua essência mais elementar, mais básica, mais essencial, é indiscritível. Indizível, portanto. Um monstro sem nome...
    Não está boto, menos ainda ignorante, APS. O problema é meu, e da minha cabeça estranha... :-)

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  3. Seja como for, c.a., ensinou-me algumas coisas que eu ignorava, em absoluto. São as tais 2 culturas de que falava o C.P.Snow (?) - cientista que escreveu romances. E, na realidade,muitas vezes, dou-me conta da minha ignorância em tantas matérias...
    Um bom dia para si, c.a..
    P.S.:isso das cabeças estranhas são aquilo que nos faz únicos.

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  4. O que tenho visto e lido sobre o assunto - e é muito pouco, C.a. – dá-me a impressão de que o estudo do infinitamente pequeno é, no mínimo, tão interessante quanto o estudo do infinitamente grande. E que em ambos os casos, a ideia que nós, leigos, podemos reter é a de que «everything is chaos!», como diria o divertido matemático Iam Malcolm, do Jurassic Park (filme). ;-)))

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  5. Obrigado, APS (e desculpe a demora na resposta) Fico feliz por conseguir diminuir um pouco o meu saldo francamente negativo na nossa «balança de transacções»... :-)))

    Tem razão, Luísa. Aliás, na Gulbenkian esteve, há uns tempos, uma exposição interessantíssima precisamente sobre esse assunto. Há até quem afirme que «o mundo visível não é nem matéria nem espírito mas a invisível organização da energia» (cfr. aqui: http://nautilus.fis.uc.pt/cec/readc/textos/outros/codigocosmico.htm) Grato pela visita.

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