Palavras do Guru

O fogo telúrico - o karma - é destruidor ou construtivo.
O fogo celeste - o dharma - inspira.
Tudo o resto são palavras mágicas
que te podem levar ao céu ou ao inferno, ao inverno ou à primavera...
e o segredo está em olhar com soberana indiferença o bem e o mal que há em todos os fenómenos e coisas... e nos mistérios
e assim... princípio e fundamento ... ver com amor e vento a brisa
... o cair das folhas,
o intervalo... o nascer dos rebentos, a eclosão das flores...
chegado o tempo para lhes comer os frutos, ó árvore sagrada do jardim do Paraíso...

19/7/76

Ruy Cinatti, Folha volante [in Vyassa, Poema do Senhor Bhagavad-Guitá]
Assírio e Alvim, p.333

8 comentários:

  1. Gosto muito, muito, da poesia de Rui Cinatti.
    «o segredo está em olhar com soberana indiferença o bem e o mal que há em todos os fenómenos e coisas... e nos mistérios
    e assim... princípio e fundamento ... ver com amor e vento a brisa
    ... o cair das folhas,
    o intervalo... o nascer dos rebentos, a eclosão das flores...
    chegado o tempo para lhes comer os frutos, ó árvore sagrada do jardim do Paraíso...»
    Pois, «o segredo está»...

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  2. Conheço muito mal, MR, mas o pouco que conheço aprecio muito. Este poema fui descobri-lo na transcrição, para português, do Bhagavad-Guitá, incluído no glossário, um local muito improvável para um poema... :-)
    Estive em Roma há umas semanas. Encontrei um dicionário extraordinário ( o «Dizionario etimologico comparato delle lingue classiche indoeuropee, sancrito-greco-latino" ) e por isso tenho andado de volta do «Bhagavad». Infelizmente precisava muito do que tenho cada vez menos: tempo!...

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  3. Gosto do Ruy Cinatti e também conheço mal.
    Este excerto é inquietante. De David Sylvian gosto muito e liga muitíssimo bem com o texto.
    ...«Eclodir as flores» talvez seja o mais belo, pelo menos as flores não fazem mal, podem nascer rebeldemente, podem nascer de um acto de vontade mas as flores são as flores!

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  4. É como MR, mais acima, escreveu:o segredo para vencer a inquietação está na soberana indiferença... :-)
    Boa noite, Ana, boa semana!

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  5. Conheço muito mal esta última fase da poesia de Cinatti. Em que ele, nessas já "fulgurações enlouquecidas" (de que falava René Char)distribuia essas folhas volantes aos anónimos, desconhecidos e passantes, pelo Cais do Sodré e arredores. Folhas volantes (creio que policopiadas)raríssimas, hoje, e que se compram, em alfarrabistas e leilões (quando aparecem), por preços altíssimos. Mas é um poeta que estimo, grandemente, c. a..

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  6. Obrigada, APS, as suas indicações (como sempre) são preciosas. Ignorava a realidade «das folhas volantes» e que elas estão associadas à última poesia. Ainda que não o entenda bem ( creio que intuo o sentido) gostei deste poema. E se me diz que o estima grandemente (tal como MR, aliás), hei-de ver se encontro os livros dele. Será que pode recomendar-me algum?

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  7. Prefiro-lhe os primeiros livros, c.a., como quase sempre...:-). Aliás, o primeiro tem um título soberbo:"Nós não somos deste mundo". Depois, "Amanhecendo a Vida recomeça", "O Livro do Nómada meu Amigo", da Guimarães (não sei se a Editora ainda terá, ou reeditou).Mas há "pescar", nem tudo ébom...
    Amanhã (hoje) vou tentar seleccionar um poema para o sítio do costume. Mas já lhe fiz um poste, anteriormente.

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  8. Sim, fui bisbilhotar as etiquetas e apanhei-o :-)
    Muito grata por tudo!

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