A inteligência




(...) a inteligência, embora divina e digna de toda a veneração, tem o costume de se acoitar nas mais repugnantes carcaças, além de que infelizmente se comporta como um canibal entre as restantes faculdades, de forma que muitas vezes, quando o Espírito se agiganta, o Coração, os Sentidos, a Magnanimidade, a Caridade, a Tolerância, a Bondade e todas as demais ficam quase sem espaço para respirar. Daí a alta conta em que se têm os poetas; daí a baixa conta em que se têm uns aos outros; daí as inimizades, as injúrias, as invejas e as querelas em que constantemente se empenham; daí a volubilidade com que as dão a conhecer; daí a avidez com que exigem simpatia pela sua causa;(...)

Virgínia Woolf, Orlando - Uma biografia , Relógio D'Agua Editores, p.149-150 

       

6 comentários:

  1. Não me recordava deste excerto da V.W. (se calhar, foi lapso freudiano..:-)). E parece-me geminar bem com Escher. Quanto ao Saura, tenho mais dificuldade em integrá-lo na "trindade".
    Mas gostei do poste, c.a..

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  2. Ora outro texto para pensar e analisar nós e os outros, ser e viver.
    Não li o Orlando, ainda, está na lista, li sim, Mrs Dalloway.
    A inteligência quando não é bem direccionada pode ser uma monstruosidade mas quando se preocupa com a beleza é das coisas mais belas deste mundo.
    A Virgínia Woolf tinha a capacidade de chegar ao fundo, de entrar até ao mais íntimo do ser humano. Julgo que o fim trágico dela deve-se a esse olhar sobre o mundo.

    Outro texto perturbador e nada indiferente a quem o lê.
    Grata.
    Bom dia!

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  3. Para APS: Concordo com a Virgínia no essencial. No entanto, e em função do que conheço, não escolheria os poetas como exemplo. O que me leva a concluir que não somos assim tão diferentes e, também, que conheço pouquíssimos poetas... :-) Quanto ao vídeo, lembrei-me dele (tenho o filme em dvd) pelo cunho «tribal» deste particular excerto. Bach seria a escolha óbvia, para «casar» com a inteligência e por isso (como muitas vezes acontece) fui à procura do oposto :-)

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  4. Para Ana: A luz, quando é muito intensa, cega. Creio que foi mais ou menos o que aconteceu com a Virgínia Woolf. Não li o livro que refere, apenas o «Orlando» e um par de ensaios. Gostei particularmente de um, sobre a condição feminina, que me parece notável. Tal como o «Orlando», aliás. Em ambos descobri alguém que conseguiu ver além do género, o que é raro entre as mulheres.

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  5. Já li há tanto tempo! Gostei. Gosto de V.W. Li há pouco "Rumo ao Farol".
    Grande abraço. passo de vez em quando mas hoje resolvi dizer "hello"!

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  6. E fez muito bem! Grande abraço para si também, MJ Falcão.

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