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14/06/10

Voar como os pássaros

outra vez peixe cozido?

não sabendo a sorte que é poder comer qualquer coisa, em vez de lhe servirem tubos de plástico num prato, acompanhados por um copo de soro

qual o sabor dos pensamentos?

das palavras?

da minha carne que apodrece?

a minha boca está seca, não percebo para que me tiram a saliva, de vez em quando alguém me molha os lábios e sinto o gosto fresco da água misturado com o sabor de pequenas fibras de algodão

(o algodão doce da feira popular)

também não percebo por que não me dão comprimidos para tomar, como é que esperam que eu melhore? um daqueles de chupar, de enrolar na lígua, daqueles que nos devolvem a súbita tranquilidade de não tarda estás fino

gostava de ser um pássaro e saborear o milho que me atirassem, enquanto andasse no terreiro com o meu andar

desajeitado, inclinado, ávido

porque ninguém tira a saliva aos pombos, nem mete tubos por eles adentro, e se fosse um pássaro podia sair daqui, por uma janela aberta, e voar até às nuvens, onde pudesse sentir o seu gosto húmido de algodão

04/01/10

As palavras

«O silêncio é mais voluptuoso que o som adulador de uma voz. Butch demorava cada dentada na torrada. Eu recolhia as migalhas e côdeas de pão uma por uma, pegava-lhes com as polpas dos meus dedos e punha-as no prato.
Bebíamos várias chávenas de chá.
Depois de comer a torrada, ele começava a massajar as entradas da testa e a formar remoinhos com mechas de cabelo.
Eu limpava cuidadosamente as manchas da toalha com um pano húmido. Depois, olhava as minhas unhas, tirava delas alguma porcaria, retinha na minha boca o sabor do café amargo.
As palavras não se gastam, dizia ele, mas uma pessoa gasta-se em palavras.»

28/12/09

O tempo...

«O tempo, que às vezes confirma e outras desqualifica, foi desvanecendo em si o ressentimento exasperante que no princípio lhe suscitava a recordação dessa 'velha amizade' ou desse 'amor postergado'. Com o decorrer dos meses, do compêndio de sensações nefastas que o seu nome lhe produzia, apenas sobreviveu um sabor amargo. Depois, reconsiderando a questão, acrescentou que certos laços respiram por necessidade. Eram de maior valor as cartas que a consagração do encontro, e era mais importante o augúrio amoroso que a convertação real do vínculo.»

Pantha rei

  Nenhum homem consegue banhar-se duas vezes no mesmo rio .  Porque não é o mesmo homem, nem é o mesmo rio. Tudo flui.    Heraclito, em vers...