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16/04/10

Mágoas

Que já me magoaste me sossega
e por mágoas de então, que ainda passo,
peso das minhas faltas me carrega,
nem os meus nervos são de bronze ou aço.
Pois se em minha rudeza te abalei,
e tu a mim, o que infernal te oprime,
com ser tirano, tempo não gastei
pesando o que sofri pelo teu crime.
Ah, nossa dor nocturna em mim lembrasse,
bem fundo, quanto dói funda trizteza
e, como a mim me deste, te prestasse
bálsamo humilde à dor no peito acesa.
   Torne-se um preço a ofensa que em ti vinha;
   resgate a minha a tua, a tua a minha.

That you were once unkind befriends me now,
And for that sorrow, which I then did feel,
Needs must I under my transgression bow,
Unless my nerves were brass or hammered steel:
For if you were by my unkindness shaken,
As I by yours, you've passed a hell of time,
And I, a tyrant, have no leisure taken
To weigh how once I suffered in your crime.
O that our night of woe might have remembered
My deepest sense how hard true sorrow hits,
And soon to you, as you to me then, tendered
The humble salve which wounded bosoms fits!
    But that your trespass now becomes a fee;
   Mine ransoms yours, and yours must ransom me.


Vasco Graça Moura, Os Sonetos de Shakespeare - Versão integral, Bertrand, p.250-251

25/02/10

Mata-me pensar que em mim não pensas

Fosse-me a carne opaca pensamento,
a vil distância não me deteria
e de remotos longes num momento
até onde te encontras eu viria.
Nem importava que tivesse os pés
no ponto que é de ti mais afastado:
o pensamento vai de lés a lés
mal pensa no lugar a que é chamado.
Mas mata-me pensar que em mim não pensas
para saltar as milhas quando vás;
feito de terra e de água em partes densas,
espero em ânsias o que o tempo traz.
   Nem lentos elementos trazem mais
   do que choros, da nossa dor sinais.

[Vasco Graça Moura, «Os Sonetos de Shakespeare - Versão integral», Bertrand, p.99]

Pantha rei

  Nenhum homem consegue banhar-se duas vezes no mesmo rio .  Porque não é o mesmo homem, nem é o mesmo rio. Tudo flui.    Heraclito, em vers...