Responsabilidade involuntária



«Naquele tempo, tentei muitas vezes falar com amigos meus sobre o problema: imagina que alguém corre conscientemente para a sua ruína e que tu podes salvá-lo - o que farias? Imagina uma operação e um doente que tomou drogas que são incompatíveis com a anestesia, mas que se envergonha de ser um drogado, e não o quer dizer ao anestesista - ias falar com o anestesista? Imagina um processo em tribunal e um acusado que vai ser punido porque não confessa que é canhoto e por isso não pode ter cometido aquele crime, que foi cometido por um mão direita, mas que tem vergonha de ser canhoto - irias dizer ao juiz o que se está a passar? Imagina que é um homossexual, que não pode ter cometido aquele acto, mas que tem vergonha de ser homossexual. Não se trata aqui da questão de uma pessoa se envergonhar por ser canhoto ou homossexual: imagina, apenas, que o acusado tem vergonha. (...)
- Não, o teu problema não tem uma solução agradável. Naturalmente que temos de agir se a situação que descreveste é uma situação que implica uma responsabilidade involuntária ou uma responsabilidade que decidimos assumir. Ao sabermos o que é melhor para o outro, e sabendo que ele se nega a vê-lo, temos de tentar abrir-lhe os olhos. Devemos deixar-lhe sempre a última palavra, mas temos que falar com ele, com ele e não com outra pessoa nas suas costas.»

[Bernhard Schlink, «O Leitor», Ed. Asa, p.90, 91 e 94]

2 comentários:

  1. Livro e filme magníficos!

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  2. Ainda não vi o livro. Tenho sempre um certo receio de ver filmes com enredos baseados em livros de que gosto...

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