Mostrar mensagens com a etiqueta cinema. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cinema. Mostrar todas as mensagens

03/03/13

O futuro

Aos domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos domingos iremos ao jardim.
Diremos, nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais,
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standartizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos
Na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses -,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvários

Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários.

Reinaldo Ferreira, Nunca mais é sábado - Antologia de Poesia Moçambicana
org. e prefácio de Nelson Saúte, ed. Dom Quixote, p. 120



25/12/11

Natal

E nessa luz estás tu;
mas eu não sei onde estás,
não sei onde está a luz.

Juan Ramón Jimenez, Antologia Poética
trad. José Bento, Relógio D'Água, p.162




Para APS, MR e Ana, com votos de Boas Festas.

16/07/11

Lá em cima

Quem não achou o Céu - aqui em baixo -
Lá em cima não o há-de encontrar -
Que os Anjos sempre alugam casa ao lado
Da que formos habitar.

Jorge de Sena, 80 poemas de Emily Dickinson, Guimarães, p.187 



16/01/11

A utilidade do poder - 1

 


SCIPION
Ce n'est pas possible, Caius!

CALIGULA
Justement!

SCIPION
Je ne te comprends pas.

CALIGULA
Justement! il s'agit de ce que n'est pas possible, ou plutôt il s'agit de rendre possible ce qui ne l'est pas.

SCIPION
Mais c'est un jeu qui n'a pas de limites. C'est la récréation d'un fou.

CALIGULA
Non, Scipion, c'est la vertu d'un empereur. Je viens de comprendre enfin l'utilité du pouvoir. Il donne ses chances à l'impossible. Aujourd'hui, et pour tout le temps qui va venir, la liberté n'a plus de frontières.

CAESONIA
Je ne sais pas s'il faut s'en réjouir, Caius.

CALIGULA
Je ne le sais pas non plus. Mais je suppose qu'il faut en vivre.

Albert Camus, Caligula, Gallimard - folio, p.36

20/10/10

Madrugada

Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
e ao lume de águas o rancor da vida.
Levar connosco mortos o desejo
e o senso de existir que penentrando
além dos lodos sob as águas fundas
hão-de ser verdes como a velha esperança
nos prados da amargura já floridos.

Deixar no mundo as árvores erguidas,
e da tremente carne as vãs cavernas
aos outros destinadas e às montanhas
que a neve cobrirá de álgida ausência.
Levar connosco em ossos que resistam
não sabemos o quê da paz tranquila.

E ao lume de águas o rancor da vida

Madrid, 4 de Setembro 72

Jorge de Sena, Versos e alguma prosa de,
prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa,
Co-edição da arcádia e Moraes, p. 127


Oliver Stone, Platoon, 1986

01/08/10

Ressurgiremos


 
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia, Círculo de Poesia,
Moraes Editores, p.179

23/05/10

Perseguindo as sombras...

Existe um deus no início, ou pelo menos no fim, de qualquer alegria.
E. M. Cioran, Do inconveniente de ter nascido, Letra Livre, p.7



Hammock - Breathturn from David Altobelli on Vimeo.
Do album "Chasing After Shadows... Living with the Ghosts" (May 18, 2010)
Los Angeles Film Festival 2010 (June)


Para ti, Mãe.

30/04/10

Deseo

Sólo tu corazón caliente, y nada más. Mi paraíso, un campo si ruiseñor ni liras, con un rio discreto y una fuentecilla. Sin la espuela del v...