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31/07/25

A mão invisível do vento roça por cima das ervas. [ À la manière de A. Caeiro ]


A mão 

A mão invisível do vento roça por cima das ervas.

Quando se solta, saltam nos intervalos do verde

Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos,

E outras pequenas flores azúis que se não vêem logo.

Não tenho quem ame, ou vida que queira, ou morte que roube.

Por mim, como pelas ervas um vento que só as dobra

Para as deixar voltar àquilo que foram, passa.

Também por mim um desejo inutilmente bafeja

As hastes das intenções, as flores do que imagino,

E tudo volta ao que era sem nada que acontecesse.

30-1-1921

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994. 

 - 89.

20/04/25

Uma após uma as ondas apressadas

 



Uma após uma as ondas apressadas

Enrolam o seu verde movimento

E chiam a alva espuma

No moreno das praias.

Uma após uma as nuvens vagarosas

Rasgam o seu redondo movimento

E o sol aquece o espaço

Do ar entre as nuvens escassas.

Indiferente a mim e eu a ela,

A natureza deste dia calmo

Furta pouco ao meu senso

De se esvair o tempo.

Só uma vaga pena inconsequente

Pára um momento à porta da minha alma

E após fitar-me um pouco

Passa, a sorrir de nada.

23-11-1918

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 

 - 78.

08/03/25

Aguardo, equânime, o que não conheço —

Aguardo, equânime, o que não conheço —

Meu futuro e o de tudo.

No fim tudo será silêncio, salvo

Onde o mar banhar nada.

13-12-1933

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. 




12/08/12

Os deuses

Os deuses são felizes.

Vivem a vida calma das raízes.

Seus desejos o Fado não oprime,

Ou, oprimindo, redime

Com a vida imortal

Não há sombras ou outros que os contristem.

E, além disto, não existem…

 Ricardo Reis



26/04/10

Equilíbrio



(...) Ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os gregos viam muito lucidamente. Por isso pouco sentiam. Daí a sua perfeita execução da obra de arte. Para executar a obra de arte com perfeita perfeição é preciso não sentir excessivamente a beleza que se vai esculpir.(...)

Ricardo Reis, O Regresso dos Deuses, Arquivo Pessoa - obra édita (on line)

A mão invisível do vento roça por cima das ervas. [ À la manière de A. Caeiro ]

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