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05/05/12

Amor

Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor não amam.

Jorge de Sena, Antologia Poética, Guimarães, p.191



26/05/11

Depois da noite

Olhos de maio rios muito claros
trazendo soltos seixos de um cinzento
que em breve se mistura de silêncio
brando. É tarde pra movê-los

do meu rosto ao teu que trouxe dedos
desprendê-lo da minha boca ébria
que a dizer-te se liberta a pouco e pouco
esta alegria. Fosse haver

depois da noite um dia sucessivo
não feito mais do que se permitir
ser tudo para nós e não mover-se
nunca o sentimento de deixar-te

sendo completo porque não termina
todo o amor que fica por fazer. 

Alberto Soares, Escrito para a noite, INCM, p.44



13/01/11

01/11/10

Senhor

Senhor se da tua pura justiça
Nascem os monstros que em minha roda eu vejo
É porque alguém te venceu ou desviou
Em não sei que penumbra os teus caminhos

Foram talvez os anjos revoltados.
Muito tempo antes de eu ter vindo
Já se tinha a tua obra dividido

E em vão eu busco a tua face antiga
És sempre um deus que nunca tem um rosto

Por muito que eu te chame e te persiga.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I, Círculo de Leitores, p.285



Patrick Delcroix, Cherché, trouvé, perdu, Cisne Negro Dance Company

11/09/10

Glosa à chegada do Outono

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

1958

Jorge de Sena, Versos e alguma prosa de
prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa,
Co-edição da arcádia e Moraes, p. 56


Com envoiMR

05/09/10

O paralítico

Acontece. Será sempre assim?
O meu espírito é um rochedo,
sem dedos para me segurar, sem voz;
é o meu Deus o pulmão de aço,

que me vem amar, que bombeia
os meus dois
sacos de pó, que oscilam para dentro e para fora,
e, assim, não me permite

recair
enquanto o dia lá fora desliza como uma fita perfurada.
A noite traz violetas,
tapeçarias de olhos,

luzes,
os serenos e anónimos
conversadores: "Estás bem?"
o peito engomado, inacessível.

Como um ovo morto, estou deitado
intacto
num intacto mundo que não posso tocar;
no branco, tenso

tambor do leito onde adormeço
fotografias visitam-me...
A minha mulher, morta e estendida, com as suas peles de 1920,
a boca cheia de pérolas,

duas raparigas,
estendidas como ela, que murmuram "Somos tuas filhas".
As águas paradas
envolvem-me os lábios,

os olhos, o nariz e os ouvidos,
um transparente
celofane que não consigo romper.
Apoiada nas minhas costas nuas

sorrio como um buda, todas
as necessidades, e desejos
caindo de mim como anéis
acariciando as suas luzes.

A garra
da magnólia,
embriagada pelo seu aroma,
nada pede à vida.

Sylvia Plath, Pela Água,
tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Assírio & Alvim, p.47-48


26/07/10

O casamento

Quem inventou o casamento era um engenhoso torturador. É uma instituição devotada ao entorpecimento dos sentidos. O objectivo absoluto do casamento é a repetição. O melhor que pode aspirar é a criação de fortes dependências mútuas.
As discussões acabam por se tornar irrelevantes, a menos que um dos dois esteja sempre preparado para as levar por diante - isto é, a acabar o casamento. Por isso, depois do primeiro ano, deixa-se de «fazer as pazes» depois de se discutir - recai-se num furioso silêncio, que passa a silêncio normal e depois tudo recomeça novamente.
Susan Sontag, Renascer - Diários e Apontamentos 1947/1963, Quetzal, p.100-101


02/05/10

30/10/09


[Maurice Béjart - "Brel Barbara"]

Avec Elegance

Se sentir quelque peu romain
Mais au temps de la décadence
Gratter sa mémoire à deux mains
Ne plus parler qu'à son silence
Et
Ne plus vouloir se faire aimer
Pour cause de trop peu d'importance
Etre désespéré
Mais avec élégance

Sentir la pente plus glissante
Qu'au temps où le corps étais mince
Lire dans les yeus de ravissantes
Que cinquante ans c'est la province
Et
Brûler sa jeunesse mourante
Mais faire celui qui s'en dispense
Etre désespéré
Mais avec élégance

Sortir pour traverser des bars
Où l'on est chaque fois le plus vieux
Y éclabousser de pourboires
Quelques barmans silencieux
Et
Grignoter des banalités
Avec des vieilles en puissance
Etre désespéré
Mais avec élégance

Savoir qu'on a toujours eu peur
Savoir son poids de lâcheté
Pouvoir se passer de bonheur
Savoir ne plus se pardonner
Et
N'avoir plus grand chose á rêver
Mais écouter son coeur qui danse
Etre désespéré
Mais avec espérance

Jacques Brel

Deseo

Sólo tu corazón caliente, y nada más. Mi paraíso, un campo si ruiseñor ni liras, con un rio discreto y una fuentecilla. Sin la espuela del v...