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12/10/25

Não entres como turista no coração de uma mulher

 


Não entres como turista no coração de uma mulher

a tirar fotos
deixando latas de cerveja
procurando só catedrais imensas
e estátuas transparentes

com a mochila cheia de mapas
e a fazer refeições rápidas

há um país
sete cidades
uma cordilheira e um inverno
no coração de uma mulher

não bebas só um copo de mar ali

não entres no avião
apanha o comboio da meia lua
não reveles ali as tuas fotografias numa hora

se não fizer demasiado frio
entra nu

não leves guarda-chuva
e sobretudo não cortes árvores
no coração de uma mulher

não costumam voltar a crescer.



José María Zonta, "Os Elefantes São Contagiosos", Filipe Ribeiro (trad.), Língua Morta, p.27;  
Edward Hopper, "Automat",1927

19/07/10

Data


À maneira de Eustache Deschamps

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação.

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia
Círculo de Poesia - Moraes Editores, p.194

15/07/10

Sad Steps



Groping back to bed after a piss
I part thick curtains, and am startled by
The rapid clouds, the moon's cleanliness.

Four o'clock: wedge-shadowed gardens lie
Under a cavernous, a wind-picked sky.
There's something laughable about this,

The way the moon dashes trough clouds that blow
Loosely as cannon-smoke to stand apart
(Stone-coloured light sharpening the roofs below)

High and preposterous and separate -
Lozenge of love! Medallion of art!
O wolves of memory! Immensements! No,

One shivers slightly, looking up there.
The hardness and the brigntness and the plain
Far-reaching singleness of that wide stare

Is a reminder of the strength and pain
Of being young; that it can't come again,
But is for others undiminished somewhere.

Philip Larkin, Sad Steps, in dark matter poems of space,
selecção de Maurice Riordan e Jocelyn Bell Burnell, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, p.65



Vento Frio e Som

Ir para onde à tarde a lua nasce Sobre o afastamento da terra Deixar o ajuntamento e o som da fala E subir à aspereza expectante da noite Um...