outra vez peixe cozido?
não sabendo a sorte que é poder comer qualquer coisa, em vez de lhe servirem tubos de plástico num prato, acompanhados por um copo de soro
qual o sabor dos pensamentos?
das palavras?
da minha carne que apodrece?
a minha boca está seca, não percebo para que me tiram a saliva, de vez em quando alguém me molha os lábios e sinto o gosto fresco da água misturado com o sabor de pequenas fibras de algodão
(o algodão doce da feira popular)
também não percebo por que não me dão comprimidos para tomar, como é que esperam que eu melhore? um daqueles de chupar, de enrolar na lígua, daqueles que nos devolvem a súbita tranquilidade de não tarda estás fino
gostava de ser um pássaro e saborear o milho que me atirassem, enquanto andasse no terreiro com o meu andar
desajeitado, inclinado, ávido
porque ninguém tira a saliva aos pombos, nem mete tubos por eles adentro, e se fosse um pássaro podia sair daqui, por uma janela aberta, e voar até às nuvens, onde pudesse sentir o seu gosto húmido de algodão
não sabendo a sorte que é poder comer qualquer coisa, em vez de lhe servirem tubos de plástico num prato, acompanhados por um copo de soro
qual o sabor dos pensamentos?
das palavras?
da minha carne que apodrece?
a minha boca está seca, não percebo para que me tiram a saliva, de vez em quando alguém me molha os lábios e sinto o gosto fresco da água misturado com o sabor de pequenas fibras de algodão
(o algodão doce da feira popular)
também não percebo por que não me dão comprimidos para tomar, como é que esperam que eu melhore? um daqueles de chupar, de enrolar na lígua, daqueles que nos devolvem a súbita tranquilidade de não tarda estás fino
gostava de ser um pássaro e saborear o milho que me atirassem, enquanto andasse no terreiro com o meu andar
desajeitado, inclinado, ávido
porque ninguém tira a saliva aos pombos, nem mete tubos por eles adentro, e se fosse um pássaro podia sair daqui, por uma janela aberta, e voar até às nuvens, onde pudesse sentir o seu gosto húmido de algodão
O texto é muito interessante, e não conhecia o escritor.
ResponderEliminarDeixei-lhe uma "prendinha" no sítio do costume.
O texto é delicioso. Desconheço o escritor mas aguçou a minha curiosidade e as frases chave foram:
ResponderEliminar"e se fosse um pássaro podia sair daqui, por uma janela aberta, e voar até às nuvens,onde pudesse sentir o seu gosto húmido de algodão"
O título é notável e sem querer coloquei um pensamento que denota alguma similitude com este. :)
Para APS: ainda estou muito no princípio, mas é, de facto, interessante e muitíssimo original. Está construído como um mosaico, mas de uma forma brilhante. Aliás, pensando melhor (e usando a linguagem musical) tem a estrutura da fuga. Muito original, mesmo.
ResponderEliminarPara Ana: se quiser ter uma ideia da escrita, pode dar uma olhadela aqui:
http://jugular.blogs.sapo.pt/user/ruiherbon
No meio das crónicas encontra textos de ficção, como por ex este aqui:
http://jugular.blogs.sapo.pt/1948496.html
Muito agradecida, vou espreitar. :)
ResponderEliminarc.a.
ResponderEliminarobrigado por mais uma referência.
um abraço
Rui, não tem de quê. É para mim um prazer partilhar com os amigos o que me dá gosto ler. Parabéns também por este. É um grande livro! Abraço.
ResponderEliminarTambém recomendo.
ResponderEliminar:)