Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vários os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vários os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi, Se isto é um Homem, Teorema, p.7
Franz Suchomel, entrevistado por Claude Lanzmann, em 1985.
Já conhecia esse excelente poema de Primo Levi, assim como o livro «Se isto é um homem». A sua experiência foi ao limite, mas em graduações diferentes esse «mal estar», está muito presente!!!
ResponderEliminarManuela
Extraordinária a entrevista. Chocante tudo o que se passou com Primo Levi. Ainda não tinha morrido, quando vivi uns anos em Itália, lembro-me do seu suicídio que foi um choque brutal no país...
ResponderEliminarComo esquecer?
Sentia-se culpado por ter sobrevivido... Certas imagens não lhe desapareciam da cabeça. Lançou-se do vão das escadas e morreu. Descansou finalmente.
Ainda bem que o lembrou.
Claro que o homem está sempre a ser confrontado com situações quase limite de dor, prepotência, etc.
Uma das minhas maiores amigas em Telavive (vivi lá 5 anos) esteve dois anos em Auschwitz, salvou-se por milagre, ela e a família... Mas o pai -que era médico- não suportou viver e, como Primo Levi, suicidou-se pouco depois da Guerra.
Viver -e morrer- naquelas condições é incompreensível, imperdoável...
Apaguei o meu comentário por me desviar um pouco de Levi e do vídeo associado ao poema. Era um pensamento corrido que não vale a pena ficar.
ResponderEliminarVejo neste poema e nesta enntrevista aquilo a que chamo "the Kingdom of fear".
Levi recorda tempos que não se podem esquecer, memórias que ainda há pouco revisitei quando estive na Sinagoga de Budapeste!
Obrigada e boa tarde.
Obrigado Manuela, obrigsdo MJ Falcão, obrigado Ana. Votos de um bom fim de semana alargado, apesar da chuva...
ResponderEliminarLer o Primo Levi... põe-nos o dia cinzento. Um peso no coração.
ResponderEliminarNão vi o vídeo. Imagino que a associação seja perfeita.
Tem razão, MR. O poema é cinzento mas o vídeo é magia negra, do mais aterrador que imaginar se pode... Felizmente, hoje, um sol tímido voltou a brilhar. Votos de óptima semana!
ResponderEliminarObrigada. E como só vi agora, retribuo com votos de bom fim-de-semana. :)
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