Ao machucho poetarrão José Daniel Rodrigues da Costa

Tomo segundo à luz saiu das «Rimas,
De José Daniel Rodrigues Costa»,
Obra mui de vagar, mui bem composta,
E sujeita depois a doutas limas.


Fala em ópios, em manas, fala em primas,
Diz coisas de que a plebe não desgosta,
Morde em peraltas, na ralé disposta
A saltos, macaquices, pantomimas.


Por estas e por outras que tem feito,
Verá qualquer leitor nas obras suas
Que ele para versar nasceu com jeito.


Acham-se em tendas, acham-se em comuas;
E para lhe aumentar honra e proveito,
As vende o próprio autor por essas ruas.

[Manuel Maria de Barbosa Du Bocage, «Sonetos», Livraria Bertrand - Obras Primas da Língua Portuguesa, p.140]

Nota: comuas = latrinas

4 comentários:

  1. Não conhecia este soneto de Bocage e é interessante que ele fale de J. D.Rodrigues da Costa que foi uma espécie de autor "best-seller" no início do sec.XIX.
    Deixo-lhe uma quadra dele,em que o próprio se retrata: "...Tenho um nariz que parece,
    Que foi por escarneo feito;
    É bico de papagaio,
    Porque tem no lombo um jeito.
    ..."

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  2. Encontrei este livro há pouco tempo. Onde estou agora não tenho scanner, mas 2.ª feira colocarei aqui a imagem da capa. Talvez o reconheça. São 3 os sonetos dedicados a este personagem. O que copiei é o terceiro. Uma parte livro é dedicada a poemas autobiográficos. São magníficos, de facto. Vou verificar se aquele que cita também consta desta colectânea, que me parece ser a mais completa que alguma vez encontrei das obras de Bocage. Infelizmente não consigo encontrar a data da edição e os meus conhecimentos em matéria de livros antigos são muito limitados. Se conseguir ajudar-me fico-lhe grato.

    Passei hoje pela Bertrand do Chiado, onde tive a felicidade de encontrar a «Antologia Poética» do Francisco Quevedo, edição bilingue, da Assírio ( 2.ª ed.), ainda por cima em promoção. Fico a dever-lhe esta descoberta.

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  3. O retrato em verso de J.D.Rodrigues da Costa ( na Arcádia Lusitana,Josino Leiriense), de que reproduzi 1 quadra, está integrado no "Comboy de Mentiras..." volume constituído por 24 folhetos, e transcrevi-o do meu exemplar, 2ªed.,1820 (a 1ª é de 1801). A obra mais conhecida do Autor é o "Almocreve de Petas..."
    - que até deu nome a um Blog.
    Como poeta, J.D.R.da C., é menor.Foi,no entanto,muito popular na época e como as suas obras foram publicadas,maioritariamente, em folhetos, são, hoje, raras, difíceis de encontrar, e muito caras, nos alfarrabistas.
    É possível que o "Almocreve de Petas..." tenha tido alguma reedição no sec.XX, mas não tenho referências. E, é tudo, o que lhe posso dizer
    sobre o José Daniel Rodrigues da Costa.

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  4. Entendi mal, então. Pensei que os versos que referiu eram de Bocage sobre ele próprio. São estes que constam do meu livro.
    Quanto ao J.D.R.da C., encontrei uma alusão a este personagem num blog, que referia o facto de ter pertencido à Arcádia Lusitana, e daí que me tenha lembrado do Bocage. Não fazia a menor ideia que o «Almocreve das Petas» (conheço o blog) vem daí.
    Como refiro acima, hei-de colocar aqui a imagem do livro e os outros dois sonetos do Bocage sobre o José Daniel Rodrigues Costa.

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