Este cão amargo rói os dias

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EM LOUVOR E ACIDENTE

De mastigar os ossos nas sílabas espessas
este cão amargo rói os dias
sob o peso da chuva com a morte
por entre os lábios o marfim das pedras

com a lua a destruir os muros sucessivos
vai latindo. Um rio que passa
tão velho e transparente sacrifício
crescendo nesta sombra de ameaças

e pequenos acidentes de percurso.
É nas súbitas varandas que palavras
neutras ou amigas se recusam
concêntricas circulam e regressam

a espaços mínimos cada vez menores
onde não é possível respirar contigo.

[Alberto Soares, Escrito Para A Noite, 1984, respigado aqui]

5 comentários:

  1. Obrigado pela gentil e grata surpresa matinal.

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  2. A memória do poema veio-me com a noite e por causa da tarefa. Estive a noite inteira a roer sílabas por razões prosaicas, as piores de todas. Um cão amargo roendo os dias. Ontem o seu poema fez-me companhia e por isso eu é que estou grato ao poeta.

    Já somos dois, Ana! :-)

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  3. é musculada, a poesia de A. Soares. Excelente, trazê-la para aqui :)

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  4. Pois... mas antes vou ter de encontrar os livros. Até agora só consegui trazer o que fui surripiando na net :-)

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