«HÁ UMA LIGAÇÃO SECRETA entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento», escreve Milan Kundera, no seu romance A Lentidão. Ao ler esta frase, identifico-me com o seu texto.
Kundera descreve um homem que caminha por uma rua, tentando lembrar-se de uma coisa que esqueceu. Nesse momento, diminui automaticamente a velocidade. Um outro homem, que está a tentar esquecer-se de uma experiência desagradável que acabou de ter, faz precisamente o oposto: aumenta o ritmo da sua passada sem pensar duas vezes, como se quisesse fugir daquilo que acabou de sentir.
Kundera exprime e reformula esses exemplos por meio da matemática existêncial e de duas equações: «O grau de lentidão é directamente proporcional à intensidade da memória; o grau de velocidade é directamente proporcional à intensidade do esquecimento.»
Erling Kagge, A Arte de Caminhar, trad. de Miguel de Castro Henriques, Quetzal Editores, p.51