Dantes vivia sobre a terra a raça humana
a recato da desgraça e do penoso trabalho,
e das doenças horríveis, que trazem a morte aos homens.
Mas a mulher, com suas mãos, ergueu a grande tampa da vasilha,
e dispersou-os, preparando à humanidade funestos cuidados.
Dentro da vasilha, na morada indestrutível,
abaixo do rebordo, ficou apenas a Esperança. Essa
não se evolou. Antes, já ela tornara a colocar a tampa,
por desígnios de Deus detentor da égide, que amontoa as nuvens.
Mas tristezas aos centos erram entre os homens.
Cheia está a terra de desgraças, cheios os mares.
As doenças, umas de dia, outras de noite,
visitam à vontade os homens, trazendo aos mortais
o mal, em silêncio, pois Zeus prudente lhes retirou a voz.
E assim não há maneira de evitar os desígnios de Zeus.
Hesíodo, Trabalhos e Dias, 90-105, in Hélade, Antologia da Cultura Grega, organização e tradução de Maria Helena Rocha Pereira, Guimarães, p.109.