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12/08/12

Os deuses

Os deuses são felizes.

Vivem a vida calma das raízes.

Seus desejos o Fado não oprime,

Ou, oprimindo, redime

Com a vida imortal

Não há sombras ou outros que os contristem.

E, além disto, não existem…

 Ricardo Reis



26/05/12

Altifalantes


Altifalam vozes
nos salões nas ruas nas praças
nos ouvidos nos túmulos
martelam esmurram gritam palmejam
comunicam urram.
Conferências discursos aspectos e palestras
lições homenagens notas do dia e da semana
et nunc et semper.
Discursos almicos encomendados traduzidos
decorados divertidos ambaquistas.
Palavras dactilodecoradas improvisos ponderados
palavras dinâmicas magnéticas.
Altifam palavras.
Hora de camaleões e altifalantes.


Mendes de Carvalho, Camaleões e Altifalantes,
Guimarães Editores - Colecção Poesia e Verdade, p.15

29/10/11

Campo de paz

(...)
Quem me dera
poder renegar-me
e renascer!
Renascer de olhos enxutos
e de coração frio.
Com a mão estendida
traçar um círculo;
nele me sentar e dele ver o mundo...
Círculo
que eu própria alargasse,
ou reduzisse...
Ó meu sonhado,
desejado
e nunca alcançado
campo de paz,
de conformação,
e de senhorio! 

Irene Lisboa, "Um dia e outro dia...outono havias de vir"
vol I - poesia I, Editorial Presença, p.233



17/10/11

A certain slant of light

There's a certain slant of light,
On winter afternoons,
That oppresses, like the weight
Of cathedral tunes.

Heavenly hurt it gives us;
We can find no scar,
But internal difference
Where the meanings are.

None may teach it - any -,
'Tis the seal, despair,-
An imperial affliction
Sent us of the air.

When it comes, the landscape listens,
Shadows hold their breath;
When it goes, 't is like the distance
On the look of death.

Emily Dickinson




28/05/11

O primeiro

Relembro-nos ocultos sob a pérgula de glicínias.
A luz pingava suspensa em cachos de lilás.
Sentíamo-nos submersos num líquido turquesa
onde os gestos morosos subaquáticos pareciam
brancos e nus.
A aproximação dos lábios
teve a lentidão dos moluscos marinhos.
O teu braço cingiu-me a nuca,
as minhas mãos perderam-se no infinito
e o mundo parou assim...

Só há um beijo válido: o primeiro.
É puro, de mármore, eterno.
Merece uma estátua no meio do jardim.

Paulo Assim, Celulose, Lugar da palavra, p.19


11/04/11

'Til something better comes along

tu que vistes fiordes e corais,
que chegaste das palavras
subterrâneas e do que fica

por dizer, que aprendeste o silêncio
em várias línguas e atiraste um dia
a moeda ao ar para enganar

a morte, quantos verbos
queres mais para percorrer
esta narrativa inútil?

Renata Correia Botelho, Um Circo no Nevoeiro, Averno, p.53



(...)
And sometimes life is frightening
And everything comes on strong
So we're holding on for dearlife
'Til something better comes along


20/02/11

Palavras do Guru

O fogo telúrico - o karma - é destruidor ou construtivo.
O fogo celeste - o dharma - inspira.
Tudo o resto são palavras mágicas
que te podem levar ao céu ou ao inferno, ao inverno ou à primavera...
e o segredo está em olhar com soberana indiferença o bem e o mal que há em todos os fenómenos e coisas... e nos mistérios
e assim... princípio e fundamento ... ver com amor e vento a brisa
... o cair das folhas,
o intervalo... o nascer dos rebentos, a eclosão das flores...
chegado o tempo para lhes comer os frutos, ó árvore sagrada do jardim do Paraíso...

19/7/76

Ruy Cinatti, Folha volante [in Vyassa, Poema do Senhor Bhagavad-Guitá]
Assírio e Alvim, p.333

14/12/10

Pássaros

Passam
tão próximos não sabem
destes pássaros macios
que crescem com a noite e não cessam
de cantar nem adormecem nunca.

Alberto Soares, Escrito para a noite, INCM, p.30



05/06/10

A esfinge

E nesta altura Ester a cair em si e a considerar em como andava apartada do seu próprio peito. Com isto de tomar para mim as vidas daquelas que me cercam, vou-me mudando, que sei eu? numa espécie de esfinge. A esfinge sentada à beira do caminho, um monstro de mistério e fatalidade. (...) Esfinge que não fazia quaisquer perguntas àqueles que se lhe aproximavam e muito menos os devorava. Esfinge de si mesma, Ester. (...) Ela, o seu coração trancado a sete chaves para tudo quanto significasse ternura. Por lealdade para com Xiao? Xiao, a desleal. Xiao que sumira, sem rasto nem retractação. Por lealdade para com a amiga china ou por amor próprio? Medo. E nesse instante, pondo ali Deus por testemunha, jurou que havia de encontrar-se com Lu Si-Yuan, a professora de inglês.

Maria Ondina Braga, Nocturno em Macau, Caminho, p.200




David Sylvian, Darkest Dreaming, do album Dead Bees On A Cake

Pantha rei

  Nenhum homem consegue banhar-se duas vezes no mesmo rio .  Porque não é o mesmo homem, nem é o mesmo rio. Tudo flui.    Heraclito, em vers...