«Não presta Coridon, não presta Elpino,
Filinto é ninharia, é lixo Alfeno;
Albano fala só do Tejo ameno,
Só tardes e manhãs descreve Alcino;
Trescala aos Seiscentistas o Paulino;
Pois Bocage! Isso é peste, isso é veneno!» -
Roncava charlatão rolho e pequeno,
Pequeno em corpo, em alma pequenino.
- «Quem acha Voss'mecê (lhe sai dum lado
Taful do sério rancho das lunetas)
Quem acha para versos estremado?» -
- Quem?! (diz o tal) não façam lá caretas:
Um que dos seus papéis anda pejado,
O aguazil Daniel, cantor de petas».
Ao mesmo, publicando o «Almocreve das Petas»
Das Petas o Almocreve é obra tua,
Bem se vê, Daniel, na frase e gosto;
Adiça três de Abril ou seis de Agosto,
É de quem vende as rimas pela rua.
Cheira a teu nome o roubo da perua,
E entre o tostado arroz o gato posto;
Eis a obra melhor que tens composto,
Inda que de artifício e graça nua.
A gente por Lisboa anda pasmada,
Vendo-te farto e cheio como um ovo
Dos alvos pintos, que te deu por nada.
E frio de terror murmura o povo
Que a tua estupidez anda pejada,
E que cedo se espera um parto novo.
Ao mesmo, dando à luz o segundo volume das suas «Rimas»
Tomo segundo à luz saiu das «Rimas,
Obra mui de vagar, mui bem composta,
E sujeita depois a doutas limas.
Fala em ópios, em manas, fala em primas,
Diz coisas de que a plebe não desgosta,
Morde em peraltas, na ralé disposta
A saltos, macaquices, pantominas.
Por estas e por outras que tem feito,
Verá qualquer leitor nas obras suas
Que ele para versar nasceu com jeito.
Acham-se em tendas, acham-se em comuas;
E para lhes aumentar honra e proveito,
As vende o próprio autor por essas ruas.
[pág. 139-140]