Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente, e pela janela alta entrará a brisa fresca a perguntar por minha alma. Ignoro se alguém me aguarda de ausência tão prolongada, ou beija a minha lembrança entre carícias e lágrimas. Mas haverá estrelas, flores e suspiros e esperanças, e amor nas alamedas, sob a sombra das ramagens. E tocará esse piano como nesta noite plácida, não havendo quem o escute, a pensar, nesta varanda.
Juan Ramón Jimenez, Antologia Poética, trad. José Bento,
Relógio D'Água, p.31-32