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O prazer (...) é uma das ilusões que mais nos devia preocupar. Não por ser uma ilusão, coisa de que vivemos bastante, mas porque esgota tudo à sua volta, transformando em deserto árido uma existência que podia estar destinada a dar frutos. (...) As melhores coisas da nossa vida , os melhores exemplos do que pudemos fazer, não nascem do prazer mas da abnegação, do esforço e, em alguns casos literários, do sofrimento. Evidentemente que não há grande virtude no sofrimento; também ele é uma espécie de moeda de troca nesse grande sistema bancário, que é o da moral. Até porque os juros do sofrimento não são satisfatórios nem felizes: são o que são, e geralmente impedem-nos de viver as pequenas alegrias.
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António Sousa Homem, "Uma Vida Fora de Moda - Crónicas de um reaccionário minhoto", Porto Editora, Julho 2025, p.242-243
