21/09/09

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"


[Antero de Quental]

3 comentários:

  1. Foi o primeiro poema que li de Antero, tinha eu 16 anos, e que me atou ao autor para sempre. Sem compreender ainda toda a dimensão desse soneto, fiquei fascinada por esse cavaleiro solitário e "formidável"...

    Um texto grandioso de um maior poeta de sempre.

    Abraço
    TSC

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  2. Lembrei-me do Antero hoje porque estive com um livro dele nas mãos e passei os olhos pelos extraordinários sonetos «Elogio da Morte». Apeteceu-me colocar aqui um poema dele, mas escolhi este soneto, de que gosto muito. Depois, quando fui à procura de um texto sobre o Autor, para «linkar» no nome, lembrei-me de verificar se a Teresa já teria escrito alguma coisa sobre ele, e lá estava, precisamente o que eu queria...

    Quem ler isto vai pensar que estamos combinados e ambos sabemos que não estamos, é puro acaso...
    «Há qualquer coisa de absolutamente selvagem nas coincidências. Elas nunca são procuradas e, no entanto, aparecem-nos sem que estejamos à sua espera. São uma espécie de Pã, no meio do caminho, sobressaltando-nos o passo, agitando-nos a alma», escreveu Cynthia Guimarães Taveira, citada pelo JAB, aqui:
    http://geometriadoabismo.blogspot.com/2009/04/o-acaso.html

    :-)
    Abraço

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  3. Sim, escrevi em Abril, para a Orgia literária, a propósito dos 167 anos de Antero de Quental - eu lá deixava passar essa data... :)))))

    E só agora vi o link, aqui.

    As coincidências são matéria enigmática...

    Outro abraço
    TSC

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