29/05/25

Tragédia

 (...) The true aristocracy and the true proletariat of the world are both in understanding with tragedy. To them it is the fundamental principle of God, and the key - the minor key - to existence. They difer in this way from the bourgeoisie of all classes, who deny tragedy, who will not tolerate it, and to whom the word tragedy means in itself unpleasantness. Many misunderstandings between the middle-class immigrant settlers and the Natives arise from this fact. The sulky Masai are both aristocracy and proletariat. (...)  

Karen Blixen in "Out of Africa"   

04/05/25

Tudo flui

«Para quem entrar no mesmo rio, outras são as águas que correm por ele.»
(frg.12 Diels-Kranz)

Heraclito, "Hélade - Antologia da Cultura Grega", org. e trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Guimarães Editores, SA, 10ª ed., p.152  


03/05/25

O branco americano

«Nada do que possa acontecer nos anos mais próximos me surpreenderá minimamente. Quando o assassino branco americano se erguer, para atacar e dilacerar, a Europa, esse velhíssimo cenário de massacres, passará a ter o aspecto de um refúgio de paz. Quando os diques cederem, e estão a ceder rapidamente, não haverá nada tão inverosímil ou diabólico - numa palavra, tão inconfessável - que nos abstenhamos de fazer.»

Henry Miller, "O Mundo do Sexo", Publicações D. Quixote, Lda e Editores Reunidos, Lda, p.47     

25/04/25

25 de Abril

Na manhã da revolução - céu cinzento, dia a ameaçar
chuva - não fui trabalhar, como toda a gente. Uma revolução
é para isso: para dar feriado no dia em que a tropa sai
à rua, e depois em cada aniversário, desde que alguém
a ganhe, claro, como neste caso aconteceu. Mas quem ganhou?
Ninguém? Todos? Todos e ninguém, no fundo, como se viu
à medida que o tempo passou, e a revolução foi dando
os seus frutos, caindo com o outono, desabrochando nalgumas
primaveras, mas acabando, como todas as revoluções, no ritmo
normal das estações e do tédio do tempo. No entanto,
lembro essa manhã. É verdade que não é das circunstâncias
que fizeram a História, dos grandes nomes e das grandes causas,
que me lembro. Tudo isso é o passado, o que está nos livros,
e há-de ser ensinado enquanto houver História para ensinar. O
que não há-de estar nesses livros, porém, é o que esse dia me
deu: tu, vendendo os primeiros jornais a sair da clandestinidade,
ainda a revolução não estava ganha; o olhar que trocámos, quando te
comprei um desses jornais, com o gesto frio de quem cumpre
a obrigação militante que não era a minha, a não ser que
se entenda por essa obrigação a militância do meu amor por ti; e
o modo como nos despedimos, sabendo que uma revolução é o separar
dos caminhos, o sacrifício dos sentimentos à liberdade das ideias,
a entrega do ser ao absoluto das abstracções. Continuaste a vender
os jornais; e eu, subindo a rua, esperei que deixasses de me ver
para deitar fora o exemplar que te comprei: nem eu era desse partido,
nem o amor pode interromper uma revolução, mesmo quando
ela nos obriga a deitá-lo para o cesto dos papéis.

Nuno Júdice, "50 anos de Poesia - Antologia Pessoal (1972-2022)", Publicações D. Quixote, p.122-123  

   

 

21/04/25

Que farei eu quando tudo arde?

 


Amor bravo e rezão dentro em meu peito
Têm guerra desigual. Amor, que jaz
I ja de muito tempo, manda e faz
Tudo o que quer a torto ou a dereito.

Não espera rezão; tudo é despeito,
Tudo soberba e força; faz e desfaz
Sem respeito nenhum; nunca está em paz;
Quando cuidais que sim, tudo é desfeito.

De outra parte a rezão tempos espia
Aqueles, quando traz de tarde em tarde
Força de sem rezão e milhor dia.

Não tem Amor lugar certo onde aguarde:
Antão trata treiçõis nesta agonia.
Triste, que farei eu quando tudo arde?

Francisco de Sá de Miranda, Poesias de, Edição de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, INCM, p.68-69  


20/04/25

Uma após uma as ondas apressadas

 



Uma após uma as ondas apressadas

Enrolam o seu verde movimento

E chiam a alva espuma

No moreno das praias.

Uma após uma as nuvens vagarosas

Rasgam o seu redondo movimento

E o sol aquece o espaço

Do ar entre as nuvens escassas.

Indiferente a mim e eu a ela,

A natureza deste dia calmo

Furta pouco ao meu senso

De se esvair o tempo.

Só uma vaga pena inconsequente

Pára um momento à porta da minha alma

E após fitar-me um pouco

Passa, a sorrir de nada.

23-11-1918

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 

 - 78.

16/04/25

Deseo

Sólo tu corazón caliente,
y nada más.

Mi paraíso, un campo
si ruiseñor
ni liras,
con un rio discreto
y una fuentecilla.

Sin la espuela del viento
sobre la fronda,
ni la estrella que quiere
ser hoja.

Una enorme luz
que fuera
luciérnaga
de otra,
en un campo de
miradas rotas.

Un reposo claro
y allí nuestros besos,
lunares sonoros
del eco,
se abrirían muy lejos.

Y tu corazón caliente,
nada más.

Federico Garcia Lorca, "Antología poética", seleção de Guillermo de Torre e Rafael Alberti, Editorial Losada, p.25 e 26


16/03/25

In Praise of Shadows

 


«A Japanese room might be likened to an inkwash painting, the paper-panelled shoji being the expanse where the ink is thinnest, and the alcove where it is darkest. Whenever I see the alcove of a tastefully built Japanese room, I marvel at our comprehension of the secrets of shadows, our sensitive use of shadow and light. For the beauty of the alcove is not the work of some clever device. An empty space is marked off with plain wood and plain walls, so that the light drawn into it forms dom shadows within emptiness. There is nothing more. And yet, when we gaze into the darkness that gathers behind the crossbeam, around the flower vase, beneath the shelves, though we know perfectly well it is mere shadow, we are overcome with the feeling that this small corner of the atmosphere there reigns complete and utter silence; that here in the darkness immutable tranquillity holds sway. The 'mysterious Orient' of which Westerners speak probably refers to the uncanny silence of this dark places. And even we as children would feel an inexpressible chill as we peered into the depths of an alcove to which the sunlight had never penetrated. Where lies the key to this mystery? Ultimately it is the magic of shadows, Were the shadows to be banished from its corners, the alcove would in that instant revert to mere void.»

«Why should this propensity to seek beauty in darkness be so strong only in Orientals? The West too has known a time when there was no electricity, gas, or petroleum, and yet so far as I know the West has never been disposed to delight in shadows. Japanese ghosts have traditionally had no feet; Western ghosts have feet, but are transparent. As even this trifle suggests, pitch darkness has always occupied our fantasies, while in the West even ghosts are as clear as glass. This is true to of our household implements: we prefer colors compounded of darkness, they prefer colors of sunlight. And of silver and copperware: we love them for the burnish and patina, which they consider unclean, insanitary, and polish to a glittering brilliance. They paint their ceilings and walls in pale colors to drive out as many of the shadows as they can. We fill our gardens with dense plantings, they spread out a flat expanse of grass.

But what produces such differences in taste? In my opinion it is this: we Orientals tend to seek our satisfactions in whatever surroundings we happen to find ourselves, to content ourselves with things as they are; and so darkness causes us no discontent, we resign ourselves to it as inevitable. If light is scarce then light is scarce; we will immerse ourselves in the darkness and there discover its own particular beauty. But the progressive Westerner is determined always to better his lot. From candle to oil lamp, oil lamp to gaslight, gaslight to electric light - his quest for a brighter light never ceases, he spares no pins to eradicate even the minutest shadow.» 

Junichiro Tanizaki, "In Praise of Shadows", Thomas J. Harper & Edward G. Seidenstcker (trad.), Penguin Random House, p. 39-40 e 62-64      

14/03/25

Alexis de Tocqueville - Cadernos de viagem

 


«[S]i je vais plus loin encore, et que, parmi ces traits divers, je cherche le principal et celui qui peut résumer presque touts les autres, je découvre que, dans la plupart des opérations de l'esprit, chaque Américain n'en appelle qu'à l'effort individuel de sa raison. L'Amérique est donc l'un des pays du monde où l'on étudie le moins et où l'on suit le mieux les préceptes de Descartes. Cela ne doit pas surprendre.»

«Les passions qui agitent le plus profondément les Américains sont des passions commerciales et non des passions politiques, ou plutôt ils transportent dans la politique des habitudes du négoce. Ils aiment l'ordre, sans lequel les affaires ne sauraient prospérer, et ils prisent particulièrement la regularité des moeurs, qui fonde les bonnes maisons; ils préfèrent le bons sens qui crée les grandes fortunes au génie que souvent les dissipe; les idées générales effraient leurs esprits accoutumés aux calculs positifs, et parmi eux, la pratique est plus en honneurs que la théorie.»

«Ce n'est pas qu'aux États-Unis comme ailleurs il n'y ait des riches; je ne connais même pas de pays où l'amour de l'argent tienne une plus large place dans le coeur de l'homme et où l'on professe um mépris plus profond pour la théorie de l'égalité permanente des biens. Mais la fortune y circule avec une incroyable rapidité, et l'expérience apprend qu'il est rare de voir deux générations en recueillir les faveurs.» 

Nicolas Baverez, "Le Monde selon Tocqueville - Combats pour la liberté", Éditions Tallandier, 2021, p.82-83  

      

O Sentimento Fractal

   Aqui, no centro do mundo, uma ordem parece nascer do Caos. Existem padrões na agitação rebelde das coisas, padrões que se repetem em toda...