03/03/12

Teleologia

Atravessamos perigos sem saber.
Abismos.
Condores.
Causas sinistras.

Nos intervalos cíclicos votamos
seguir em frente.

Que fazer, não fazer
nestes compromissos
a que nos entregamos?

Perigos não previstos
surgem nos abismos
da realidade.

Sinistras aves, a verdade simples,
descem abismos
sempre quando somos.

Ruy Cinatti, archeologia ad usum animae
Editorial Presença, colecção forma, p.34


01/01/12

As Fúrias

(...) O futuro
o ouvirás, quando surgir. Antes disso, esqueçamo-lo,
que o mesmo vale que começar logo a gemer.
Virá claramente com a luz que o vir nascer.
Seja bem sucedida, depois disto, a acção, (...)

Ésquilo, Agamémnon, 248-257,
in Hélade - Antologia da Cultura Grega, org. e trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Guimarães Ed., p.227


25/12/11

Natal

E nessa luz estás tu;
mas eu não sei onde estás,
não sei onde está a luz.

Juan Ramón Jimenez, Antologia Poética
trad. José Bento, Relógio D'Água, p.162




Para APS, MR e Ana, com votos de Boas Festas.

21/12/11

Perversa Idade

Apenas isso: vinha
e não sabia
que tempestade a mais
vinha com ela

Alberto Soares, Escrito para a noite, INCM, p.20


20/11/11

Saltério

Sôbolos rios que vão por Babilónia, sentados
chorámos as lembranças de Sião,
e nos salgueiros pendurámos as harpas
contra o vento.

Herberto Helder, O Bebedor Nocturno - poemas mudados para português
Assírio & Alvim, p.15



07/11/11

Outono

Vibram sílabas ao vento e os cabelos
brancos esvoaçam como aves fustigadas,
frágeis e furtivas
para sul.

Águas rompem de um incerto futuro
como as pedras ficam
quietas para sempre, conformadas
no infinito.

Sobe da terra um bafo morno,
materno, cada vez mais frio,
e a morte é a grande abstracção
depois da noite maior.

Alberto Soares

[poema retirado do Arpose



31/10/11

No limbo...

No limbo todos os dias são Domingo.

Ramón Gómez de La Serna, Greguerías
sel. e trad. Jorge Silva Melo, Assírio e Alvim, p.57






29/10/11

Campo de paz

(...)
Quem me dera
poder renegar-me
e renascer!
Renascer de olhos enxutos
e de coração frio.
Com a mão estendida
traçar um círculo;
nele me sentar e dele ver o mundo...
Círculo
que eu própria alargasse,
ou reduzisse...
Ó meu sonhado,
desejado
e nunca alcançado
campo de paz,
de conformação,
e de senhorio! 

Irene Lisboa, "Um dia e outro dia...outono havias de vir"
vol I - poesia I, Editorial Presença, p.233



25 de Abril

Na manhã da revolução - céu cinzento, dia a ameaçar chuva - não fui trabalhar, como toda a gente. Uma revolução é para isso: para dar feriad...