05/08/13
04/08/13
Nota breve
Mergulho no desespero de um escritor que não escreve.
Marguerite Yourcenar, Apontamentos sobre as Memórias de Adriano,
Ulisseia, 1983, p.252
25/05/13
21/04/13
6 motivos para 1 cenário
O melro negro que, do mármore branco, vai para a chaminé.
Uma leitosa neblina sobre o rio.
A gaivota sobrevoando, alta.
Um fiozinho de música que vai pela manhã, como uma voz sem sílabas.
Alguém que se debruça na janela, para ver o rio.
O melro que levanta, em direcção ao dia.
Alberto Soares, aqui
Uma leitosa neblina sobre o rio.
A gaivota sobrevoando, alta.
Um fiozinho de música que vai pela manhã, como uma voz sem sílabas.
Alguém que se debruça na janela, para ver o rio.
O melro que levanta, em direcção ao dia.
Alberto Soares, aqui
03/03/13
O futuro
Aos domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos domingos iremos ao jardim.
Diremos, nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais,
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standartizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos
Na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses -,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvários
Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários.
Reinaldo Ferreira, Nunca mais é sábado - Antologia de Poesia Moçambicana,
org. e prefácio de Nelson Saúte, ed. Dom Quixote, p. 120
09/12/12
Many names
Quando considero a minha vida fico apavorado ao achá-la informe. A existência dos heróis, aquela que nos contam, é simples: vai direita ao fim como uma seta. E a maioria dos homens gosta de resumir a sua vida num preceito, por vezes uma jactância ou numa lamentação, quase sempre numa recriminação; a sua memória fabrica-lhes complacentemente uma existência explicável e clara. A minha vida tem contornos menos firmes. Como sucede frequentemente, é talvez o que não fui que a define com maior justeza: bom soldado, mas não um grande homem de guerra; amador de arte, mas não aquele artista que Nero julgou ser, ao morrer; capaz de crimes, mas não carregado de crimes.
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, trad. de Maria Lamas, Ulisseia, p.25
01/11/12
Evolução da alma
Tudo flui
Para as almas, a morte é transformarem-se em água;
para a água, a morte é transformar-se em terra;
pois a água tem origem na terra, e a alma na água.
Heraclito,
in HÉLADE Antologia da Cultura Grega,
org. e trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Guimarães Editores, 10.ª ed. p.152 e 153
17/09/12
Paciência
De mastigar os ossos nas sílabas espessas
este cão amargo rói os dias
sob o peso da chuva com a morte
por entre os lábios o marfim das pedras
este cão amargo rói os dias
sob o peso da chuva com a morte
por entre os lábios o marfim das pedras
(...)
Alberto Soares, Escrito Para a Noite
Alberto Soares, Escrito Para a Noite
12/08/12
Os deuses
Os deuses são felizes.
Vivem a vida calma das raízes.
Seus desejos o Fado não oprime,
Ou, oprimindo, redime
Com a vida imortal
Não há sombras ou outros que os contristem.
E, além disto, não existem…
Ricardo Reis
09/08/12
10/06/12
Mudar de vida
Solúvel e insolúvel este povo.
Na memória dos outros e na sua mesma.
Na memória dos outros e na sua mesma.
Jorge de Sena, Antologia Poética, Guimarães, p.226
Glória
Um dia se verá que o mundo não viveu um drama.
Todas estas batalhas, todos estes crimes,
todas estas crianças que não chegaram a desdobrar-se em carne viva
e de quem, contudo, fizeram carne viva logo morta,
todos estes poetas furados por balas
e todos os outros poetas abandonados pelos que
nem coragem tiveram de matar um homem,
toda esta mocidade enganada e roubada
e a outra que morreu sabendo que a roubavam,
todo este sangue expressamente coalhado
à face íntegra da terra,
tudo isto é o reverso glorioso do findar dos erros.
Um dia nos libertaremos da morte sem deixar de morrer.
Todas estas batalhas, todos estes crimes,
todas estas crianças que não chegaram a desdobrar-se em carne viva
e de quem, contudo, fizeram carne viva logo morta,
todos estes poetas furados por balas
e todos os outros poetas abandonados pelos que
nem coragem tiveram de matar um homem,
toda esta mocidade enganada e roubada
e a outra que morreu sabendo que a roubavam,
todo este sangue expressamente coalhado
à face íntegra da terra,
tudo isto é o reverso glorioso do findar dos erros.
Um dia nos libertaremos da morte sem deixar de morrer.
Jorge de Sena, Antologia Poética, Guimarães, p.56
(...)
A História não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem fôr
A História não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem fôr
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