Oferecendo de beber a Pei Ti

Provável auto retrato de Wang Wei


Vem beber um copo e descansar,
os homens mudam sempre, como as ondas do mar.
Nós dois temos envelhecido juntos,
apesar dos reveses, continuamos vivos.
O primeiro a habitar uma casa de portões escarlates
pode sorrir, ao olhar os outros de chapéu na mão.
Tu sabes, basta um pouco de chuva
para reverdecer a erva dos caminhos.
O vento da Primavera é ainda frio
mas os botões das flores quase desabrocharam.
Porquê tanta pergunta, tanta luta,
os negócios do mundo, as nuvens flutuantes?
Descansa, deixa fluir a vida,
e vem jantar comigo.

Wang Wei, Poemas de Wang Wei, tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu, Instituto Cultural de Macau, 1993, p.170

Curva cega

é sempre a mesma curva

cega, neste troço de pedra lascada,

não há como escapar

às primeiras chuvas

ao piso escorregadio dos olhos,

despiste, falésia mortal,

o coração não entende

sinais vermelhos.

Renata Correia Botelho, 
in revista Telhados de Vidro nº 2, p. 39, Averno, Lisboa, Maio 2004, 
respigado aqui e com agradecimento a APS, que recomendou.