A esfinge

E nesta altura Ester a cair em si e a considerar em como andava apartada do seu próprio peito. Com isto de tomar para mim as vidas daquelas que me cercam, vou-me mudando, que sei eu? numa espécie de esfinge. A esfinge sentada à beira do caminho, um monstro de mistério e fatalidade. (...) Esfinge que não fazia quaisquer perguntas àqueles que se lhe aproximavam e muito menos os devorava. Esfinge de si mesma, Ester. (...) Ela, o seu coração trancado a sete chaves para tudo quanto significasse ternura. Por lealdade para com Xiao? Xiao, a desleal. Xiao que sumira, sem rasto nem retractação. Por lealdade para com a amiga china ou por amor próprio? Medo. E nesse instante, pondo ali Deus por testemunha, jurou que havia de encontrar-se com Lu Si-Yuan, a professora de inglês.

Maria Ondina Braga, Nocturno em Macau, Caminho, p.200




David Sylvian, Darkest Dreaming, do album Dead Bees On A Cake

How noteless Men, and Pleiads, stand...

Searching for Dark Matter in a Galaxy Cluster

How noteless Men, and Pleiads, stand,
Until a sudden sky
Reveals the fact that One is rapt -
Forever from the Eye -

Members of the Invisible,
Existing, while we stare,
In Leagueless Opportunity,
O'ertakeless, as the Air -

Why didn't we detain Them?
The Heavens with a smile,
Sweep by our disappointed Heads
Without a syllable -

Emily Dickinson,in «dark matter poems of space»
selecção de Maurice Riordan e Jocelyn Bell Burnell, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, p.214


Para APS, confiando que me ajudará a entendê-lo.

Irmão vento

Um vento novo sucedeu rompendo
por dentro a procurar-nos um do outro.

Alberto Soares, Escrito para a noite, INCM, p.31.



Chuva oblíqua

vejo-te como se pode ver
através desta chuva oblíqua.

oblíquo é sempre o ângulo de onde
te vejo, por mais que procure a tua
nitidez absoluta.

(...)

Vitor Oliveira Jorge, As Arquitecturas Sanzonais, ed.Campo das Letras, p. 61