O ódio


James Ensor, Ensor with masks

Je ne hais personne; - mais la haine noircit mon sang et brûle cette peau que les annés furent incapables de tanner. Comment dompter, sous des jugements tendres ou rigoureux, une tristesse hideuse et un cri d'écorché? (...) E. M. Cioran, Précis de Décomposition, Gallimard, p.108

Ressurgiremos


 
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia, Círculo de Poesia,
Moraes Editores, p.179