(...) a inteligência, embora divina e digna de toda a veneração, tem o costume de se acoitar nas mais repugnantes carcaças, além de que infelizmente se comporta como um canibal entre as restantes faculdades, de forma que muitas vezes, quando o Espírito se agiganta, o Coração, os Sentidos, a Magnanimidade, a Caridade, a Tolerância, a Bondade e todas as demais ficam quase sem espaço para respirar. Daí a alta conta em que se têm os poetas; daí a baixa conta em que se têm uns aos outros; daí as inimizades, as injúrias, as invejas e as querelas em que constantemente se empenham; daí a volubilidade com que as dão a conhecer; daí a avidez com que exigem simpatia pela sua causa;(...)
Virgínia Woolf, Orlando - Uma biografia , Relógio D'Agua Editores, p.149-150