Fio

Não começou ainda mas fustiga
já as veias a negra primavera:

o ar do meio de março outra vez liga
o coração à pele como na espera

do que já não virá, mesmo que diga
o contrário o vão eco de outra era

Pele, espelho do sol, dele te abriga
de noite a luz do céu que recupera

o brilho dos altos tectos diluídos
na infância e nos sonhos, os sentidos
tornando mais selvagens: o espesso

calor do ar de março engrossa o rio
interior do sangue, oculto fio
do passado com que o futuro meço

Gastão Cruz, Escarpas, Assírio & Alvim, p.38




Para MR, com amizade.

5 comentários:

  1. Muito obrigada. Gostei imenso, tanto da poesia como do Arvo Part.

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  2. E talvez nos encontremos na Gulbenkian no dia 21. :)

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  3. Esqueci-me de dizer que gostei do bailado: par de bailarinos e coreografia.

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  4. :-)

    PS: já tenho os bilhetes, mas esqueci-me que nesse dia tenho de estar às 14 horas no Tribunal de Faro, veremos se chego a tempo...

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