Ressurgiremos


 
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia, Círculo de Poesia,
Moraes Editores, p.179

8 comentários:

  1. Não consegui ver o filme (problemas informáticos), mas se tem a ver com a Europa (como penso), é urgente que oiçamos (mesmo) as duas ou três pessoas que a pensam há décadas (no caso português, Mário Soares e Eduardo Lourenço) e que parecem saber o caminho que temos de percorrer, para que
    «Ressurgiremos ali onde as palavras
    São o nome das coisas
    E onde são claros e vivos os contornos
    [...]
    Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
    São o reino do homem
    Ressurgiremos para olhar para a terra de frente».
    Senão...

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  2. Conheço mal o von Trier, mas este registo-vídeo é quase hipnótico (de início), e muito interessante, c.a.. O poema de Sophia, muito bom, embora - na ideia - optimista demais, do meu ponto de vista. O que faz algum contraponto ao vídeo - foi a leitura que fiz. Como habitualmente, fez um enlace bem sucedido, de coisas, à partida, bem distintas. Obrigado.

    P/MR.: palavras justas!

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  3. Para MR: o filme tem a ver com a Europa, sim, e por isso o realizador escolheu uma história passada em 1945, na Alemanha. O protagonista é um americano, descendente de alemães, que regressa a uma Alemanha destruída pela guerra com a intenção de ajudar a reconstrução. O tema (tanto quanto recordo, porque vi o filme no ano em que por cá estreou e depois disso só revi excertos) é a crise de valores, e a abordagem, a perspectiva, é de um europeu do norte: o realizador é dinamarquês, o filme a preto e branco, com alguns raros apontamentos a cor, esteticamente muito belo mas muito sombrio. O poema de Sophia está, por isso, nos antípodas: é apolíneo, do sul.
    É engraçado que tenha referido Eduardo Lourenço porque comprei há dias uma colectânea de ensaios deste autor, com o título «O Labirinto da Saudade» (da Gradiva), e será uma das leituras que vou levar para férias. Obrigado, MR. Bom domingo!

    Para APS: Também conheço mal o von Trier, APS, mas gosto muitíssimo deste filme. A voz do narrador, que nos guia desde o início, é de Max Von Sydow, e julgo que contribuiu muito para que eu nunca o tivesse esquecido. A minha ideia, quando escolhi o poema, foi, precisamente, fazer um contraponto entre o pessimismo quase mórbido dos europeus do norte, e o optimismo frequentemente irrealista dos europeus do sul. Algures, pelo meio, andará a virtude...
    E que a frescura da noite não nos abandone este domingo! :-)

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  4. Acho que vai adorar O labirinto da saudade. Eu ando às voltas com outro livro de Eduardo Lourenço: A Esquerda na encruzilhada ou fora da história. Já o li e estou relê-lo.
    E também espero que «a frescura da noite não nos abandone este domingo» nem na semana que vai entrar.
    Boa semana! :-)

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  5. Entretanto, um vizinho partilha com a vizinhança a audição de O piano de Michael Nyman. Neste caso, até me está a agradar.

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  6. A frescura lá veio, para quem a merece!
    Até breve.
    A.S.
    (e o comentário até ficou com rima,"helás"!)

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  7. O seu post é duplamente interessante porque revela duas europas distintas: a do filme, uma Europa da qual me encontro recém-chegada, muito próxima da do filme de Lars von Trier, cujo nome me diz algo mas não me lembro de quê.
    Vivi a presença desta Europa escura e negra, como a cor fantástica do vídeo, na "Casa do Terror" em Budapeste, que se divide em duas cores o negro do fascismo e nazismo, e incrivelmente, o vermelho amargo e negro da ocupação soviética.
    A Europa da Sophia de Mello Breyner Andressen que vivi há uns dois anos, bela, mediterrânica e luminosa. Curioso, foi encontrar aqui a Sophia, pois, li, no avião, que Sophia de M. B. A. adorava a Grécia e ia várias vezes visitá-la. Há sítios que temos que voltar!
    Cnossos é um deles...

    Budapeste renasceu e encanta...

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