Senhor

Senhor se da tua pura justiça
Nascem os monstros que em minha roda eu vejo
É porque alguém te venceu ou desviou
Em não sei que penumbra os teus caminhos

Foram talvez os anjos revoltados.
Muito tempo antes de eu ter vindo
Já se tinha a tua obra dividido

E em vão eu busco a tua face antiga
És sempre um deus que nunca tem um rosto

Por muito que eu te chame e te persiga.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I, Círculo de Leitores, p.285



Patrick Delcroix, Cherché, trouvé, perdu, Cisne Negro Dance Company

1 comentário:

  1. Começando pelo poema, sinto o mesmo que Sophia de Mello Breyner, ou seja:
    - Onde está esse Deus sem rosto? Onde está quando o procuro?
    Quanto à expressão corporal notei-lhe a falta de uma certa graciosidade, embora seja um belo exercício coreográfico. Não conhecia.

    Desejo que os monstros se esvaeçam. Não conhecia este poema de SMBA mas é profundamente amargo.
    Procura-se o lado doce da vida mas ela também tem este lado.
    Bom dia!

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