(...)
Quem me dera
poder renegar-me
e renascer!
Renascer de olhos enxutos
e de coração frio.
Com a mão estendida
traçar um círculo;
nele me sentar
e dele ver o mundo...
Círculo
que eu própria alargasse,
ou reduzisse...
Ó meu sonhado,
desejado
e nunca alcançado
campo de paz,
de conformação,
e de senhorio!
Irene Lisboa, "Um dia e outro dia...outono havias de vir",
vol I - poesia I, Editorial Presença, p.233
Sintonia perfeita.
ResponderEliminarOuço muitas vezes esta música, não sei se foi aqui que descobri David Sylvian se foi noutro lado.
Bom seria se o campo de paz fosse como os lírios que nascem no campo todas as primaveras.
Bom fim de semana!
Muito prosaica, clara e intensa (aí, anda perto de Sena), mas "roedora", esta poesia sempre originalíssima de Irene Lisboa. Lembra-me imagens de obras de Barlach e Käthe Kollwitz, pelos seus negros intensos e gritos sufocados. "Renegar/ renascer/ senhorío" parecem-me, a mim, as palavras-chave deste excerto de poema. E acho, c.a., que fez bem lembrá-la.
ResponderEliminarObrigada, Ana, uma boa semana para si também.
ResponderEliminarTem, certamente, razão, APS, mas para mim as ideias que refere (renegar/renascer/senhorio) têm subjacente um desejo de paz, no sentido de não ter de lutar todos os dias por um lugar no mundo. Foi em função disto que escolhi o título. E é, como refere, uma poesia prosaica, assumidamente prosaica, mas cheia de pedaços que «cintilam». Original e desconcertante, talvez... Obrigada, APS. Boa semana!
ResponderEliminarCampo de Paz. Este blogue é exactamente isso. E também outras coisas. Tenho cá vindo pouco. Não por falta de vontade mas porque os dias são cada vez mais pequenos. Ou é essa a minha sensação. Não sei. Sei que aqui a música, a poesia ensinam-me sempre qualquer coisa. Um beijinho, c.a.
ResponderEliminarQuerida Analima, que bom lê-la! Um beijinho.
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