Leio cinco versos.
Já os tinha lido, depressa,
a apanhar-lhes o espírito,
no ar.
Que versos!
Mal os entendi,
não os apreciei...
Leio-os agora mais devagar,
palavra a palavra...
Cada palavra,
ou duas,
ou três...
Sim, é isto...
Assim se pensa,
efectivamente,
depressa ou devagar,
por meios sentidos...
Cada palavra é um título,
E larga!
Tanto vale sendo verbo
como adjectivo...
E não há adjectivos banais,
nem de mau gosto,
há pensamentos...
coisas visíveis
ou invisíveis,
mostradas de repente.
Mas escapadiças...
É sempre preciso
um esforço novo,
inteligência
e sensibilidade
para as compreender...
'saisir!'
[Irene Lisboa, «um dia e outro dia... outono havias de vir», volume I, poesias I, Presença, p.272-273]
P.S.: Para AJS, com gratidão.
É curosa a coincidência, porque ontem chegou-me,da "Presença", via CTT - por encomenda que tinha feito na sexta-feira passada - , o "Poesia I" da Autora. Da poesia de Irene Lisboa, eu conhecia não mais de 10 poemas, de antologias. Que bastaram para me terem deixado uma impressão forte e marcada.
ResponderEliminarAté agora só li as duas introduções/apresentações. A de J. Gomes Ferreira é excelente. Dá uma "varredela" valente, e salutar, na poesia da época.
Duplamente obrigado.
Li, algures, que «há qualquer coisa de absolutamente selvagem nas coincidências» e por várias vezes já constatei que assim é.
ResponderEliminarA minha mania de comprar tudo o que encontro quando gosto de algum autor leva-me, frequentemente, a ter em meu poder um livro durante muito tempo sem o abrir. É o caso deste. Comecei a ler a obra da Irene Lisboa pela prosa mas um comentário seu, há uns dias, sobre a poesia, fez-me ir buscar este livro. Por coincidência (uma vez mais) ao folheá-lo encontrei um poema sobre o tema da nossa última conversa e parei aí. Quando parto à descoberta de «território novo» preciso de um fio, como se desembaraçasse uma meada. No caso da poesia da Irene Lisboa julgo que encontrei esse fio agora, com a sua ajuda. Por isso, eu é que lhe agradeço.