E nesta altura Ester a cair em si e a considerar em como andava apartada do seu próprio peito. Com isto de tomar para mim as vidas daquelas que me cercam, vou-me mudando, que sei eu? numa espécie de esfinge. A esfinge sentada à beira do caminho, um monstro de mistério e fatalidade. (...) Esfinge que não fazia quaisquer perguntas àqueles que se lhe aproximavam e muito menos os devorava. Esfinge de si mesma, Ester. (...) Ela, o seu coração trancado a sete chaves para tudo quanto significasse ternura. Por lealdade para com Xiao? Xiao, a desleal. Xiao que sumira, sem rasto nem retractação. Por lealdade para com a amiga china ou por amor próprio? Medo. E nesse instante, pondo ali Deus por testemunha, jurou que havia de encontrar-se com Lu Si-Yuan, a professora de inglês.
Maria Ondina Braga, Nocturno em Macau, Caminho, p.200
David Sylvian, Darkest Dreaming, do album Dead Bees On A Cake
Poderá não questionar ou devorar, mas a esfinge vigia sempre...
ResponderEliminarGostei da música de David Sylvian, não conhecia e é melancolicamente bonita.
ResponderEliminarTirei-a da net:
Stay tonight
We’ll watch the full moon rising
Hold on tight
The sky is breaking
I don’t ever want to be alone
With all my darkest dreaming
Hold me close
The sky is breaking
I don’t ever want to be alone
With all my darkest dreaming
Hold me close
The sky is breaking
A esfinge no Egipto era um símbolo de poder e de protecção. Desejo que esta esfinge vigie no bom sentido. :)
É verdade, Sara, vigia, uma estátua de areia e sal, no meio do deserto. Obrigado. É bom encontrá-la por aqui.
ResponderEliminarGrato, Ana, por ter encontrado o poema. Gosto de vê-lo escrito. Os seus comentários são sempre bem vindos, independentemente do tamanho. Volte sempre!
Andei a ler umas coisas sobre esfinges porque me fez impressão este seu post. A ideia que tinha é que eram guardiãs símbolos do poder e sabedoria. Mas encontrei outros significados, alguns desagradáveis.
ResponderEliminarVenho desejar que a sua esfinge se disperse nas areias do deserto... e que tenha tudo de bom. :)e desculpe ter voltado. :)
A tentação de comentar foi despoletada mais pela voz de David Sylvian do que pelo texto de Ondina Braga. Uma canção tem esse dom mágico e imediato de nos transportar para lá do impensável. Grande David Sylvian!
ResponderEliminarÉ verdade, Paulo, grande David Sylvian! É óptimo despoletar a vontade de um comentário :-)
ResponderEliminarCompreendo que o texto não tenha provocado a mesma empatia, mas na minha cabeça é o casamento perfeito, por razões que Freud explicaria, ou talvez não... :-) Enfim, o importante é saber que gostou pelo menos da música, e eu gostei de o encontrar por aqui :-)
Só agora reparei que deixou outro comentário, Ana. Talvez não seja de se impressionar tanto. A esfinge não é minha, é da Maria Ondina Braga... Ainda assim, grato pela amizade atenta :-)
ResponderEliminarNão tinha visto este magnífico post; vídeo extraordinário (a cara do Adágio) :)
ResponderEliminarAbraço
T.
Obrigado, T.
ResponderEliminarE faz favor de levar o vídeo! :-)
Abraço