À maneira de Eustache Deschamps
Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação.
Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão
Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia,
Círculo de Poesia - Moraes Editores, p.194
O poema é lindo e o quadro também, mas nunca relacionaria este poema com este quadro. :)
ResponderEliminarDeixo um poema de Eustache Deschamps:
Or n’est-il fleur, odeur ni violette,
Arbre, églantier, tant ait douceur en lui,
Beauté, bonté, ni chose tant parfaite,
Homme, femme, tant soit blanc ni poli,
Crêpé ni blond, fort, appert ni joli,
Sage ni fou, que Nature ait formé,
Qui à son temps ne soit vieil et usé,
Et que la mort à sa fin ne le chasse,
Et si vieil est, qu’il ne soit diffamé :
Vieillesse est fin et jeunesse est en grâce.
La fleur en mai et son odeur délecte
Aux odorants, non pas jour et demi ;
En un moment vient le vent qui la guette ;
Cheoir la fait ou la coupe par mi.
Arbres et gens passent leur temps ainsi :
Riens estable n’a Nature ordonné,
Tout doit mourir ce qui a été né ;
Un pauvre accès de fièvre l’homme efface,
Ou âge vieil, qui est déterminé :
Vieillesse est fin et jeunesse est en grâce.
Pourquoi fait donc dame ni pucelette
Si grand danger de s’amour à ami,
Qui séchera sous le pied comm’ l’herbette ?
C’est grand foleur. Que n’avons-nous merci
L’un de l’autre ? Quand tout sera pourri,
Ceux qui n’aiment et ceux qui ont aimé,
Les refusants seront chétifs clamé,
Et les donnants auront vermeille face,
Et si seront au monde renommé :
Vieillesse est fin et jeunesse est en grâce.
Prince, chacun doit en son jeune aé
Prendre le temps qui lui est destiné.
En l’âge vieil tout le contraire fasse :
Ainsi aura les deux temps en cherté.
Ne fasse nul de s’amour grand fierté :
Vieillesse est fin et jeunesse est en grâce.
Boa noite!
Obrigado, MR. Não conhecia o poema, e é magnífico!
ResponderEliminar«Encalhei» no quadro há uns dias e hoje, quando me apeteceu um pouco da poesia de Sophia e fui ter a este poema, de imediato o associei ao quadro. Julgo que ambos são belos e gélidos. Creio ser o que me levou a associá-los, mas confesso que neste processo nem sempre é fácil racionalizar...
Boa noite, MR!
Concordo que o quadro é gélido; o poema, vejo-o mais como um grito de raiva.
ResponderEliminarBoa noite!
Acho que entendi agora. De facto, lemos o poema de uma maneira diferente, porque eu não o sinto como um grito de revolta, mas antes como uma reflexão interior, algo que poderia ser pensado, por exemplo, pelo vulto à janela. O que me atrai nos quadros de Hopper é que quase sempre é possível colocar por cima deles uma história. Neste caso o poema é apenas mais um dado visível da história (além do quadro), ficando ainda alguns «espaços» que o leitor terá de preencher. Ou que eu preenchi para mim, mas no «post» deixei omissos. É bem possível, sim, e se não fosse o seu comentário o mais provável era nem dar conta disso. Obrigado, MR.
ResponderEliminarTambém o vejo como uma reflexão à janela, um lampejo de acutilância cristalina, um pensamento que brota da conjunção interior (tristeza)e exterior (a verdade nua e crua).
ResponderEliminarNão tem data, mas possivelmente foi escrito durante o Estado Novo, embora haja muitas espécies de mordaças.
Liga muito bem com o Hopper, os cinzentos/azul frios são gélidos como o poema.
Também gostei da coreografia Bob Fosse.
Esta coreografia do Bob Fosse, de facto, é emblemática. A maioria das pessoas só conhece o «Cabaret» mas a obra dele é muito mais que esse filme (um extraordinário filme, aliás). Obrigado, Ana.
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