Venho de um tempo mais frio. Antes da alba,
caminhos gelados levavam sombras caladas
aos janelões sujos das fábricas.
Hoje, aquelas sombras do passado
que ensurdeceram o mundo com os seus cantos
olham de dentro de mim. Nada percebem.
Contemplam, opulenta, uma miséria
que nem sabe que é miséria.
É o final de um sonho. É o momento
de democratizar a arte. Nenhuma árvore alta.
Espantosamente ricos e, por isso,
espantosamente pobres.
Joan Margarit, Casa da Misericórdia,
Rita Custódio e Àlex Tarradelas (trad.), ovni, p.39
Rita Custódio e Àlex Tarradelas (trad.), ovni, p.39
Fez uma bela associação entre o texto, que eu não conhecia, e os Radiohead que adoro.
ResponderEliminarO poema é muito interessante. "Nenhuma árvore alta" faz arrepiar.
O que quererá dizer o poeta?
Não o conhecia por isso vou procurar. O poema é assaz perturbador, frio, seco, ou melhor o poeta chega a uma triste conclusão.
O que é que será melhor o passado ou o presente?
Agradecida pela revelação. Boa tarde!
Creio que o «Nenhuma árvore alta» é uma alusão à mediocridade que hoje em dia é regra, até na arte. O poeta é catalão e arquitecto de formação. O livro é de 2007, edição portuguesa de 2009 e bilingue, que foi o aspecto que despertou a minha atenção. Não é comum encontrar-se livros em catalão, menos ainda traduzidos para português. E este vale a pena.
ResponderEliminarObrigada, Ana e boa semana!
Gostei!
ResponderEliminarO anterior foi teste e uáu!, funcionou.
ResponderEliminarO que tentei, ontem,dizer é que a poesia, no seu concreto, é magnetizada pela nossa experiência e vivência, mais fácil, por isso, se tivermos, na memória, paralelismos mais ou menos afectivos, que no-la façam entender ou fazer nossa. De Margarit, diria que é poesia interventiva, tanto quanto é possível (?) fazê-la hoje.
Se a música não fosse acompanhada de imagens que nos ajudam, perturbam, mas também distraem, e reduzem o horizonte, o elemento associativo seria apenas de ordem abstracta, sublinhando apenas o ritmo do poema.
Como sempre, c. a., uma associação "exquis", mas que resulta, quanto amim.
Muito grata, APS! Fico feliz por verificar que sempre conseguiu furar o (involuntário) bloqueio. Ainda estou para perceber o que se passou...
ResponderEliminarTambém gostei, tanto do poema como da associação à canção dos Radiohead.
ResponderEliminarObrigada, MR!
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